Escrevendo flashbacks e narrativas não-lineares
- lmccabrero
- 10 de nov. de 2021
- 3 min de leitura

Uma das coisas que eu mais gostei de fazer em Filhos de Janeiro foi utilizar flashbacks e uma estrutura não-linear para contar a jornada dos personagens. É um recurso que abre muitas possibilidades de engajar o leitor enquanto brinca com as estruturas convencionais de contar uma história.
É por isso que no post de hoje eu vou trazer dicas de como utilizar flashbacks ou implementar uma narrativa não-linear na sua história. Alguns desses pontos, inclusive, eu gostaria de ter preferido saber antes mesmo de começar a escrever uma história com esses elementos. Como diz o ditado: faça o que eu digo, não faça o que eu faço.
Planejamento importa
Não é todo mundo que gosta de ter um outline detalhado na hora de escrever uma história, eu mesmo sou uma dessas pessoas, mas ter um planejamento da história é importante quando você vai escrever alguma narrativa não-linear ou que dependa majoritariamente de flashbacks.
Uma ferramenta boa é planejar a história toda de maneira cronológica e ir reorganizando as cenas até encontrar uma ordem que seja interessante para contar a história, assim você sabe quais cenas precisam apresentar quais elementos e quais não.
Uma narrativa não-linear pode fazer maravilhas para o suspense de uma história, o custo disso é você ter que despender um tempo maior planejando e gerenciando esse suspense.
Uma narrativa não-linear não precisa ter um porquê de existir
É impossível não nos perguntarmos “por quê?” quando escrevemos ou consumimos alguma narrativa não-linear. E a resposta geralmente deve ser um simples “porque sim”.
A verdade é que você não precisa inventar alguma explicação mirabolante que justifique a forma com que sua história foi organizada. Nada de alguém derrubando um dispositivo controlador do tempo que faz embaralhar toda a história, a menos que ela seja sobre isso, claro.
Olhando por um lado, uma narrativa não-linear contribui para um melhor desenvolvimento dos personagens e construção de mundo porque o formato, de certa forma, justifica você pausar a história para explicar melhor esses elementos.
Por outro lado, é bom se questionar se a história funcionaria tão bem quanto se fosse narrada de maneira cronológica. Se sim, optar por uma narrativa não-linear pode ser uma complicação extra que não traz nenhum ganho significativo para a história.
Flashbacks não são tão importantes quanto a gente pensa
Um problema comum de flashbacks — e que até mesmo Filhos de Janeiro sofre com isso, admito — é que você literalmente interrompe a história para explicar algo que já aconteceu com os personagens. Essas interrupções podem fazer a narrativa ficar arrastada e perder o leitor no meio do caminho.
Um questionamento que precisa ser feito é: se aquele flashback é tão importante assim para o entendimento da história, por que ele não está presente de maneira cronológica, então?
Flashbacks podem apresentar muito das motivações do personagem e do mundo em que eles vivem, mas eles devem ser usados com parcimônia. Às vezes, ter duas linhas de prosa podem fazer mais para estabelecer o personagem e o mundo do que um flashback de trinta.
Indique claramente o tempo em que as cenas se passam
Séries e filmes que se usam de narrativas não-lineares tem o apoio visual para indicarem a mudança de tempo. O seriado Damages, por exemplo, usava cores mais quentes para indicar o futuro enquanto que elementos do passado dos personagens eram apresentados por uma paleta repleta de cores frias.
No texto você não tem o aporte visual para indicar essa mudança no tempo, mas é importantíssimo que você indique ao leitor em que ponto ele está. Utilize o clima, hora do dia, características do personagem (um corte de cabelo, um ferimento) para indicar em qual ponto da história aquela cena se passa.
Também considere indicar as mudanças no tempo quebrando-o em novos capítulos ou seções de um mesmo capítulo. Quanto mais evidente para o leitor, melhor.

A história precisa sempre ir para a frente, mesmo que as cenas não
Escrever histórias não-lineares é muito divertido, mas tem seus perigos. É muito comum você ter apenas flashbacks que só fazem explicar pontos da trama sem oferecer nada além disso.
Por isso, é importante trabalhar a estrutura da história para que o senso de que ela está avançando seja constante. Você pode ir e voltar no tempo o quanto quiser, mas o senso de que as coisas estão evoluindo deve ser o mesmo do que se fosse uma narrativa cronológica.
Uma sugestão é pensar não apenas no que o flashback pode explicar, mas também quais elementos novos ele pode apresentar a partir daquela explicação.
E aí, você tem alguma dica para escrever narrativas não-lineares? Deixe seus comentários!
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