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Como eu penso diálogos?

  • lmccabrero
  • 11 de dez. de 2021
  • 4 min de leitura

Ilustração com balões de fala típicos de histórias em quadrinhos em tamanhos, cores e formatos variados.
Imagem: freepik.com

Cedo ou tarde, você que se dedica a escrever vai encarar o desafio de criar diálogos entre seus personagens.


Ao longo do dia você pergunta as horas para alguém, conversa sobre o que aconteceu com os amigos e reclama do trabalho para o terapeuta. As pessoas conversam, ponto final. Por que seus personagens não deveriam fazer o mesmo?


É importante ressaltar que um receio é comum na hora de criar diálogos. Como ter certeza que seus personagens soam como pessoas de verdade? Como garantir que a conversa seja interessante e não um monte de informação despejada sem critério algum? São dúvidas comuns, não tem nada de errado em sofrer por causa delas.


Por isso, eu vou listar cinco pontos que levo em consideração na hora de montar um diálogo. Não é garantia que eu os siga à risca — afinal, eu estou aprendendo tanto quanto vocês —, mas penso que são bons pontos de partida para quem fica intimidado com a ideia de ter dois ou mais personagens conversando em cena.


Diálogos são a forma mais pessoal de escrita


Esse eu peguei emprestado do Aaron Sorkin, roteirista de filmes como A Rede Social e séries como The West Wing. Ele comenta que diálogos são a forma mais pessoal de escrita (nesse vídeo) e eu concordo plenamente, eles mostram claramente a maneira de pensar do autor.


Mas, nós como autores não deveríamos sempre escrever da maneira como o personagem fala?


Sim também! Só que absolutamente tudo que escrevemos está condicionado à nossa maneira de pensar e enxergar o mundo. A maneira como nós organizamos nossos pensamentos é única e isso vai para o papel, quer queira ou não.


Os diálogos são pessoais porque cada autor usa a experiência que tem conversando (ou não) com o mundo como base para escrevê-los.


Entender como seus personagens pensam e falam depende muito de entender como você pensa e fala, mesmo o personagem sendo completamente diferente de você.


Diálogos realistas, pero no mucho


Ninguém na vida real fala como se estivesse em um episódio de Succession, Gilmore Girls ou The Big Bang Theory (e se falassem seriam pessoas insuportáveis). Então, por que esses diálogos funcionam tão bem nesses exemplos?


Oras, porque o mundo quis assim. O quão realista seu diálogo deve ser depende da maneira como você concebeu o mundo em que se passa a história. É uma decisão estilística que não necessariamente precisa ter um porquê de existir, só um “porque eu quis” já basta.


Todos os personagens desses exemplos seguem uma conformidade na hora de falar, considerando as diferenças na personalidade de cada um deles, claro. Todos seguem um mesmo tom e essa unidade é interessante porque se você colocar discrepâncias muito gritantes na maneira que os personagens falam, corre o risco de quebrar a consistência necessária para tornar o mundo crível e, aí sim, ser acusado de ter diálogos que não são realistas.


Outro ponto que merece atenção é que eu estou usando exemplos do audiovisual que tem o apoio de som e imagem, coisa que um texto não tem. Então vai um trabalho maior em como traduzir essa dica para a prosa, afinal não dá para todo mundo ler o diálogo com a mesma entonação do Roman Roy em Succession.


Ritmo importa


Ainda usando o Aaron Sorkin como exemplo, esse vídeo sobre A Rede Social conta muito sobre como o roteirista escreve diálogos como se fossem músicas. Com cada fala tendo uma métrica bem definida assim como os acordes e batidas de uma melodia.



do isso contribui para o ritmo dos diálogos e é interessante pensar em como fazê-los ter um ritmo tão interessante quanto uma música.


Quão longas devem ser as frases? E as pausas para narrar ações e pensamentos dos personagens? Tudo influencia o ritmo de leitura e pode ajudar ou atrapalhar a maneira como o leitor percebe os diálogos.


Blocos grandes de diálogo podem ser cansativos, mas tem seu espaço dependendo da cena enquanto que poucos diálogos podem cansar porque ouvir o personagem falando ajuda muito o leitor a percebê-lo como alguém com vontades e opiniões.


Nisso entra também a forma como eles falam. Há quem torça o nariz, mas eu gosto de usar e abusar de exclamações, letras maiúsculas para indicar gritos, itálicos para ênfases em palavras específicas e reticências para indicar que o personagem ainda não tem certeza do que está falando.


Quando conversamos, nós mudamos de assunto bruscamente, resgatamos coisas ditas antes e interrompemos uns aos outros ou até mesmo nós mesmos. Incluir esses elementos não apenas deixa o texto mais interessante como também pode ser uma ferramenta para mostrar quem é o personagem e como ele interage com os outros


Claro que você corre o risco de poluir o texto com excesso desses recursos, mas é como diz o primeiro item: a escrita de diálogos é pessoal, você vai saber o quanto é o suficiente.


Seus personagens nem sempre falam sobre a mesma coisa ou estão na mesma página


Confusões são comuns em conversas na vida real. Às vezes nós falamos por cima de algum ruído que impede a compreensão, ou falamos por impulso e nos arrependemos logo em seguida, ou até mesmo existe uma falta de comunicação com um personagem achando que o assunto é uma festa de aniversário quando na verdade é sobre uma invasão zumbi. Exemplo:


— Não deixe ninguém entrar!
— Como assim, não deixa ninguém entrar? Eu os convidei para a minha festa.
— Mas... eles vão devorar tudo!
— Que bom, eu gastei demais no buffet.

E usar da ideia de personagens conversando sobre vários assuntos ao mesmo momento pode tornar os diálogos mais interessantes. São oportunidades de mostrar quem são os personagens, como eles interagem entre si e até mesmo avançar a história dependendo de até onde a confusão pode chegar.


Claro que se você tiver sete personagens falando ao mesmo tempo cada um sobre um assunto diferente as chances de isso causar um nó na sua cabeça e na do leitor são grandes. Por isso tem que ter cuidado e entender que a confusão precisa se limitar ao personagem, e não a quem está lendo.


Às vezes eles falam sem falar


E muitas vezes a história e os personagens podem se beneficiar de, bem, não falar explicitamente o que querem. Faz parte de um bom diálogo você deixar coisas para a interpretação do leitor e do personagem.


É nesse subtexto dos diálogos que você inclui bastante da temática da sua história e, para ajudar a entender melhor como fazer os personagens dizerem muito com pouco, fica a recomendação desse vídeo do canal Hello Future Me.



E aí, como você se prepara para escrever diálogos?

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© 2023 por Lucas Cabrero. Orgulhosamente criado com wix.com

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