Quem precisa de cursos de escrita?
- lmccabrero
- 22 de mar. de 2022
- 3 min de leitura

Não tem “o jeito certo” de ser escritor. Talvez não tenha nem “o jeito mais recomendável” de ser o *cof*cof* mago das palavras. Essa talvez seja uma das coisas mais fascinantes de escrever, toda jornada é válida. E é aí que entram muitas discussões sobre o assunto “cursos de escrita”. Afinal, se não tem jeito certo de escrever, por que a gente deveria gastar rios de dinheiro em um curso do gênero?
Eu, por muitos anos, não fiz nenhum curso de escrita criativa. Minha primeira vez em sala de aula foi numa oficina ministrada pela Jana Bianchi em 2019, alguns aulões do Fábio M. Barreto em momentos esporádicos desse mesmo ano, um curso só sobre leitura crítica e uma infinidade de podcasts e vídeos no YouTube sobre escrita criativa.
No mais, eu considero o meu curso superior em jornalismo algo que contou bastante para que pudesse percorrer alguns caminhos da escrita com maior tranquilidade. Pode ser muita forçação de barra falar que ser jornalista me ajudou como escritor? Talvez, mas já percebi que muitos preciosismos que teria para com o texto são quase inexistentes, visto que no jornalismo o que mais estamos acostumados é ter pessoas retalhando seu texto para tirar o melhor dele.
Isso quer dizer que, para ser um bom escritor, você precisa fazer uma faculdade de jornalismo? Não, mas funcionou comigo, eu acho…
Um ponto que é praticamente unânime em todas as discussões sobre “quem precisa de curso de escrita” é de como o melhor a se fazer é evitar cursos que prometem ensinar a escrita de um best-seller em setenta e duas horas. Isso é puro charlatanismo, mas se funcionou para você, eu é que não vou te julgar (em público).
Tenho pra mim que todo mundo que se propõe a escrever histórias deve fazer algum curso ou oficina pelo menos uma vez na vida. Penso ser uma experiência gratificante, você está cercado de pessoas que (espero) gostam das mesmas coisas que você, aprende mais sobre um ofício que você admira e faz contatos no mercado. Muitos desses cursos, oficinas e eventos pagando um preço bastante razoável.
Por outro lado, não julgo indispensável fazê-los. Um curso não te torna um bom escritor da mesma forma que só o talento/dom/inspiração não faz um bom escritor. O que é importante é que se tenha a oferta e acesso a esse tipo de conteúdo.
Voltando no parágrafo em que falo sobre como o curso universitário me ajudou a escrever criativamente, é importante considerar o meu recorte. Eu tive acesso ao curso universitário por uma série de contextos (sociais, financeiros e políticos) que me levaram até ele e que contribuíram para que eu pudesse converter muito do que foi aprendido nele em uma base teórica para escrever ficção, ainda que a grade curricular não fosse, necessariamente, sobre escrever ficção.
(Em tempo, essa “conversão” diz respeito a uma visão minha de que, tanto no jornalismo quanto na prosa, trabalhamos conceitos de semiótica, análise do discurso e até mesmo a hierarquia das informações que você quer passar para o leitor)
Um erro que se tem quando conversa-se sobre cursos de escrita é que, por vezes, fica implícito que o formato tinha mais é que ser extinto, geralmente por pessoas que já tiveram um arcabouço teórico e prático fruto dos contextos em que cresceram. É fácil falar que cursos de escrita é exploração quando você cresceu com acesso a obras relevantes e figuras que entendiam os meandros da escrita e até do mercado literário.
O ponto é que cursos de escrita não são indispensáveis, mas é indispensável que eles sejam, no mínimo oferecidos. De maneira honesta, deixando bem claro seus objetivos para com o aluno e não prometendo coisas que ele não pode entregar.
Quem precisa de cursos de escrita? Quem quer fazer, oras.
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