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'Tick, Tick... Boom' me fez pensar mais do que gostaria

  • lmccabrero
  • 29 de nov. de 2021
  • 3 min de leitura

Imagem. Cena do filme Tick, Tick Boom, com o personagem principal no palco segurando um microfone e olhando para o público com um sorriso. Fim da descrição.
Andrew Garfield em cena de "Tick, Tick... Boom" (Imagem: Netflix)

Eu lembro a primeira vez que tive contato com o trabalho de Jonathan Larson, foi com Rent — Os Boêmios durante um dia tedioso passeando pela Netflix.


Lembro de ter me apaixonado por aquela história sobre amor, amizade e resistência durante a epidemia de AIDS quase que imediatamente, percebendo novas camadas de significado a cada assistida ou toda vez que lia um pouco mais sobre a vida e obra de Larson.


Por isso, Tick, Tick... Boom, filme musical da Netflix lançado recentemente, era um programa imperdível para mim.


Eu só não esperava que ele ressoasse tanto comigo?


Ok, talvez eu esperava. Mas não deixei de ficar mais impactado que o esperado.


O filme mostra Jonathan Larson (interpretado por Andrew Garfield), um compositor de musicais ansiando pela sua grande chance na Broadway às vésperas de completar trinta anos. Somado a isso, Jonathan precisa lidar com problemas financeiros, uma namorada (Alexandra Shipp) com anseios que vão além de Nova Iorque e a epidemia silenciosa de AIDS que vitimava diversas pessoas próximas a ele.


Frustrado com esse turbilhão de elementos conspirando contra, Larson escreve Tick, Tick... Boom, um musical-monólogo contando desse período da vida dele.


O filme, dirigido por Lin-Manuel Miranda, usa da apresentação de Tick, Tick... Boom para narrar a vida de Larson e acerta bastante ao mesclar a forma que Larson enxergava o mundo com a realidade. É um filme musical que usa seus momentos de cantoria de maneira inteligente e até mesmo mais palatável para quem não está tão acostumado com musicais.


Além disso, Tick, Tick... Boom apresenta muitos elementos do que viria a ser Rent, com diversos acenos para o fã mais hardcore do musical e homenagens mais que merecidas a grandes nomes da Broadway.


Tick, Tick... Boom ainda conta com excelentes atuações de Garfield, Shipp, Vanessa Hudgens, Judith Light e Bradley Whitford. Só todos esses elementos já me fariam gostar do filme, só que ele teve que incluir mais um: o de como ele conversa comigo como alguém que faz arte.


Eu recentemente lancei meu primeiro romance, uma história que passei os últimos três anos escrevendo e que por muitas vezes imaginei ser o melhor que eu conseguiria fazer e que seria a minha obra definitiva. Só que pouco antes do lançamento oficial de Filhos de Janeiro, eu comecei a perceber que ele não seria a primeira e última história que colocaria no papel.


Muito menos que a continuidade da minha vontade de contar histórias não iria depender do sucesso ou fracasso do livro.


Tick, Tick... Boom conversa bastante comigo porque Larson passa por coisas parecidas (com suas equivalências, veja bem). Ele apresentou o workshop de Superbia e, apesar de elogiado por todos os presentes, não recebeu nenhuma oferta de financiamento para a produção do espetáculo na Broadway. Dependendo do ponto de vista, isso seria um fracasso. E isso pouco importa, porque Larson aprendeu com a experiência de qualquer maneira e seguiu em frente, escrevendo Tick, Tick... Boom e Rent nos anos seguintes.


É por isso que o número de “Why” é tão impactante, quando Garfield canta sobre a vida e amizade ao lado de Michael (Robin de Jesús) e repete que “é assim que quero passar o meu tempo” ele reflete não apenas sobre as conexões que teve na vida, mas também na relação com a arte.


Nós continuamos nos conectando, continuamos escrevendo, criando e contando histórias sem parar até acertar e continuar o ciclo todo de novo. Não importando o quanto nosso tempo na terra parece tão curto (e é, Jonathan Larson morreu com apenas 36 anos às vésperas da estreia de Rent), e o quanto corremos contra a sensação de estarmos tão velhos para continuar tentando quando pessoas mais jovens já alcançaram objetivos parecidos com os nossos.


A verdade é que a sensação do tempo nos puxar para baixo nunca vai deixar de existir, e ela é a motivadora para a gente continuar fazendo.




Assistiu Tick, Tick... Boom e também refletiu sobre como é fazer arte por causa do filme? Deixe seus comentários!

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